quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Clipe da Eutanase tem impulsionamento barrado. Censura?


*por Artur Mamede 

A amazonense Eutanase lançou no último dia 03 o clipe oficial da faixa "Backstabber", uma versão remixada e remasterizada da mesma de 2019. Um pouco antes do lançamento conversei com Thiago Rocha (guitarrista) e em acordo, decidimos esperar para ver qual a reação da audiência.

Até as 11h dessa quinta-feira  (06) a publicação no YouTube havia atingido 697 views, 164 likes e dois "dislikes. E isso com vários compartilhamentos e até matéria em um jornal de grande circulação. São números modestos que pedem um impulsionamento da publicação para que se atinja um público maior.

E foi ao tentar esse impulsionamento que a Eutanase foi surpreendida por um aviso da plataforma de vídeos (veja foto abaixo) que impede que tal ação seja feita.

A alegação é de que a expressão "bullshit" (asneira, besteira, papo furado) usada   na letra de "Backstabber" é considerada ofensiva pela "Política sobre linguagem ofensiva e gramática." 

O Riffmakers conversou com Thiago sobre o tema. Acompanhe.

Riffmakers: Sabendo que não é pessoal e  nem contra o estilo de música praticado pela Eutanase (jjá limando conspiracionistas e fundamentalistas do metal), como tu vê essa política da plataforma que censura uma palavra, comum e usual na língua inglesa, mas que deixa passar obscenidades e fake news que destroem carreiras e vidas privadas?

Thiago Rocha:  É importante salientar que não somos a favor de confundir liberdade de expressão com libertinagem de opinião. Acredito também que há um limite. Mas sejamos justos: essa expressão não chega nem perto das barbaridades que assistimos todo dia nas timelines. É mais um tabu externo do que uma censura justa. Se formos analisar a quantidade de bandas, até mesmo fora do metal (essas divas) que usam de expressões muito piores, pode cancelar toda essa produção cultural do mainstream. 

E vale lembrar que eu nem estou falando dos funks que vão no extremo da baixaria, pois não vale nem o debate. Parece assim que tudo o que envolve o rock e, principalmente, o heavy metal parece sofrer um filtro mais denso. Bom, sempre fomos resistência. Quem quiser conferir o clipe... pelo menos não tiraram do ar.

Riffmakers: Quando alguém está a falar muita besteira, é comum o uso da expressão "teu cu!" no lugar de "para de falar asneiras!". Trocar o "bullshit" por "teu cu", poderia ser uma solução?

Thiago: No caso dessa substituição talvez eles nem entendessem a ideia. Só iam censurar pelo tabu da palavra cu. Existe um grande problema em falar determinadas palavras, embora sejam usadas diariamente por várias idades. Eu entendo a política dos caras de reduzir a falta de "educação", mas esse radicalismo é hipócrita e parece bem seletivo.

Riffmakers: Considera isso um ataque pelas costas (backstab), já que  não há um códex de palavras a serem evitadas? Corre-se o risco de tal cartilha ser criada?

Thiago: Hahaha, podemos entender que sim. Fazemos uma análise pesada das letras. Não imaginávamos que uma expressão dessa, em pleno século XXI, ainda pudesse prejudicar alguém. Acho que não corremos risco: A cartilha já está criada. Só não é aplicado a todos, o que me causa a indignação. 

Essa hipocrisia seletiva parece ter seu próprio "jeitinho" de resolver as coisas. Se esse codex fosse aplicado a todos, a nossa produção cultural do mainstream não estaria do nível que está.

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O impulsionamento do vídeo pela banda está restrito, mas as visualizações e compartilhamentos, não. Assista "Backstabber" acessando https://youtu.be/SuV5CnjPdFU

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Caso similar

Em 2019, a banda paraense veterana no hardcore Delinquentes passou por um caso parecido. Desta vez no Facebook. A banda foi impedida de anunciar o seu disco recém lançado "Infrctus Humanus" por conta da imagem conter "pessoas com um excesso de pele exposta".

Em 2020 a Delinquentes foi citada em um programa de rádio  (favorável ao atual governo Federal) de alcance nacional com comentários idiotas do tipo "não deixaria minha filha ver uma banda com esse nome". O programa em questão debatia o evento Facada Fest III, que o então super juíz S. Moro queria enquadrar na Lei de Segurança Nacional.

São coisas do tipo que me fazem pensar na força que o Brasil tem no metal mais extremo, no punk e no hardcore (apesar de muitos babacas reacionários infiltrados). A vida real gera temas mais impactantes para música e letra do que os contos de elfos e dragões. 


1 comentário:

  1. Não entendi essa censura, quase todas as bandas falam "fuck you" e não são censuradas..

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