quarta-feira, 19 de junho de 2024

Scalpo - "No Fear" chama a atenção para o metal feito no Acre

"No Fear" é o EP debut dos thrashers acreanos da Scalpo que com poucos dias de lançamento (foi publicado no último dia 14) já atrai olhos e ouvidos para o metal feito em uma região com pouca tradição no assunto, sendo tão poucas as bandas que conseguiram furar a bolha do isolamento (não só o geográfico).


O EP tem uma qualidade acima da média impressa em cinco faixas de um técnico, potente e esmagador thrash metal. "No Fear" levou anos para ser concluído, mas segundo a banda, nunca foi um trabalho de gaveta. 



Com a pré-produção iniciada em 2019 e interrompida no ano seguinte pelo isolamento causado pela pandemia de COVID-19, as músicas foram ensaiadas e rearranjadas até o início de 2024. E o excelente resultado pode ser ouvido AQUI. E ouça ALTO!

Leia também: Guerreiros Headbangers - "Sombras da Morte" sai em lyric vídeo

"Acho que todos fizeram o dever de casa"

A Scalpo (Jardel Costa - guitarra, Moisés Lima - vocal e João Paulus - baixo) agora se empenha em promover o EP e expandir o alcance da banda e de "No Fear" para além de Rio Branco (AC). 

O Riffmakers trocou algumas ideias com Jardel e Moisés sobre essa nova fase da Scalpo.

Riffmakers: Sendo provavelmente a única no estilo (thrash metal) em atividade na capital acreana e com um trabalho lançado, qual foi o processo de produção de "No Fear"? Foi necessário sair da cidade/estado atrás de bons estúdios?

Jardel: A Scalpo é bem antiga, tem mais de 20 anos, começamos moleques mesmo como uma banda punk, mas com influências de Sepultura, Ratos de Porão, Pantera entre outras. Porém, devido a vários problemas com integrantes e financeiros também, nunca tínhamos conseguido registrar nossas músicas depois que assumimos um estilo mais pesado. 

E aí em 2010 eu comecei a ter contato com home studio, comecei a estudar produção musical e engenharia de áudio. Enfim, em 2019, já com uma bagagem e com a banda tinindo, percebi que era o momento, então fizemos toda a pré produção ajustando alguns arranjos, depois disso fizemos toda as sessões para fazer as guias de guitarra e baixo. 

No mesmo ano e na época eu tinha uma parceria com um estúdio local chamado MH Studio, onde, quando eu precisava gravar, tinha uma sala liberada nos finais de semana para eu fazer minhas produções. Foi nessa época que fizemos todas as bateras do EP, depois disso infelizmente o MH Studio fechou e não conseguimos concluir o trampo. 


Scalpo ensaiando em 2018 (Foto: Reprodução/Instagram João Paulus)


Em 2020 tivemos a pandemia e foi quando tivemos que dar um breque em tudo. Como não tinha o que fazer e eu ainda tinha algumas coisas que me permitiam gravar em casa mesmo, fiz todas as guitarras para deixar só esperando a hora de gravar os outros instrumentos e vozes quando as coisas melhorassem.

Bom, o tempo passou eu deixei todos resolverem suas correrias e em janeiro de 2024 retomamos as gravações para finalizar no RB Studio do amigo Risley, onde gravamos todas as linhas de baixo e também as vozes, e onde fiz toda a mixagem com o Risley preparando o ambiente de mixagem pra eu poder fazer-lo. então acho que é isso. o processo de produção foi esse. 


Jardel Costa (Imagem: acervo pessoal)


Riffmakers: "No Fear" tem uma qualidade acima da média, um bom estúdio ajuda, mas sem empenho da banda, não seria possível. Quais experiências a Scalpo vem acumulando nesses anos e que contribuíram para o resultado?

Jardel: Com esse tempo de banda realmente temos uma bagagem, e essa formação que gravamos o EP vinha numa batida muito forte de ensaios constantes e apresentações e a banda estava muito redonda. 

Além de Moisés e de mim, no contrabaixo contamos com a contribuição de alguns baixistas como André Bandeira e também Junior Gonzalez sendo esse o primeiro baixista que sempre que podemos incluímos nos shows e gravação. 

Abrimos show de bandas importantes na cena nacional como Ratos de Porão, Korzus e outras, em suas passagens pelo Acre. Acho que todos fizeram o dever de casa de estudar suas partes e executar tudo da melhor forma possível. 

Riffmakers: "No Fear" lançado. E agora, como mostrá-lo ao vivo? Rio Branco tem um circuito de eventos voltados ao metal? 

Jardel: Bom já estávamos organizando a logística para fazer shows, pois o nosso baterista e o baixista foram morar em Curitiba. E aí estamos começando a ver uma data para ele vir e fazermos alguns shows em Rio branco e outros municípios que também querem nos ver novamente, e também estamos vendo alguns lugares para fazer essa passagem por Curitiba, aproveitando que agora moram lá. Nada impede de tentar fechar datas em outros estados e festivais e etc. 


Scalpo na edição de 2012 do Feliz Metal (Foto: Reprodução/YouTube)


Quanto à banda, sempre estivemos prontos para fazer isso com perfeição. Aqui no Acre tem a galera do Studio Beer, Dream Cry e a PI Produções Rock Store que organizam eventos voltados para metal, um dele o Feliz Metal que já é tradicional no final de ano do acreano, organizado pela Dream Cry, do meu amigo Ricardinho. Também tem o Carnarock organizado pelo Igor Healer que também faz a cena acontecer. São heróis que lutam e fazem acontecer. 

Riffmakers: São poucos dias desde o lançamento de "No Fear" e qual tem sido a aceitação do público e o que a internet representa nesse processo de divulgação?

Jardel: Cara, a aceitação tem sido tão boa, eu tenho mandado para todo mundo, algumas pessoas influentes, grupos do Facebook, algumas pessoas do exterior e o que tenho escutado é sobre o quando o EP tem impressionado. 

Estamos tentando fazer com que chegue em alguns canais do YouTube, infelizmente não tenho tido muitas respostas... acho que não tenho a "Senha" (risos) mas continuamos tentando. E aproveitando gostaria de agradecer por essa entrevista e eu e toda a banda ficamos muito gratos pelo espaço. 

Só pra finalizar, a internet é uma coisa maravilhosa que está nos dando a oportunidade de mostrar o nosso trampo daqui do Acre para o Brasil e o mundo também.

Riffmakers: Costuma haver uma reação em cadeia quando uma banda sai "da garagem". Alguma banda da região da Scalpo pode ser citada acompanhando a onda, ou acreditam que outras possam surgir por influência de vocês?

Jardel: Desde o início aqui na cidade sempre tivemos um círculo de amigos que nos inspiraram e é algo interessante de se falar pois aqui as bandas que nos inspiravam eram as bandas dos amigos, seja lá no início quando assistíamos os ensaios na casa do vizinho ou quando atravessávamos a cidade para poder gravar uma fita TDK do Cannibal Corpse com o baixista de uma banda de death metal da época chamada Zarcref que tinha o vinil, e ali fazíamos uma nova amizade e uma nova fonte de inspiração. 

Vou citar algumas que tem seus trabalhos lançados, tem a Survive com o disco "Destroy and Revolucionize", tem a Hylidae que tem três discos lançados vou dar o destaque pro primeiro deles que é o que eu gosto mais, chamado "Promiscuous World", tem os amigos da Guerrilha PA 44, banda de hardcore, os amigos da Fire Angel, Dream Healer. Pra quem gosta de black metal tem o Necromantticu que também tem disco gravado, enfim, existe uma cena, que já foi bem mais efervescente, mas que está viva. 

Riffmakers: Sobre as letras, o que a Scalpo tenta passar a quem ouve?

Moisés (vocal): As letras sempre retratam os conflitos e relações do ser humano em seus aspectos políticos e sociais, suas frustrações e vitórias em um cotidiano árduo, onde é preciso ser forte e enfrentar seus medos para não ser um mero figurante, em um mundo onde protagonistas ditam regras, criam guerras e cometem genocidio globalizado. 

Jardel:  Só complementando o que o Moisés falou, o EP " No Fear" tem uma temática e uma crítica social forte em relação a colonização, a imposição de um credo religioso, a tomada de território, a destruição da cultura dos povos nativos. 

Músicas como "Pseudo Coletividade" que fala sobre a hipocrisia de grupos, sejam eles políticos ou sociais, ou "Vamos Quebrar" que começa com Frase "Vamos Quebrar a Máscara dos Políticos", essa não precisa nem falar sobre o que é. Então Scalpo é sobre crítica, sobre insatisfação com o sistema e tudo isso. 

Riffmakers: O que esperar da Scalpo a partir daqui? 

Jardel: Enquanto vamos organizando a logística para reunir todo mundo pra fazer os show e marcar datas, já estamos trabalhando em mais alguns sons, tanto que já existem músicas para um próximo álbum e que saia o mais rápido possível. 

*por Artur Mamede 


APOIADORES RIFFMAKERS 








Sem comentários:

Enviar um comentário

SxDxM - "Ensaio Sobre a Má Vontade" vem à luz

"Ensaio Sobre a Má Vontade", o segundo álbum da grindêra SxDxM, ou Saldo Desigual Moral, finalmente veio à luz. Lançado de forma ...