"Patu" é o mais recente clipe da banda cearense de thrash metal Paradoxo. Lançado nesta quarta-feira (12), o vídeo rememora o Campo de Patu, espaço criado pelo estado na década de 1930 para conter a chegada de retirantes a Fortaleza, capital do Ceará.
O episódio, retratado no roteiro e direção de Reuber Tadeu (baixo/vocal da Paradoxo e historiador e pesquisador dentro da área de cultura popular e história do Ceará) estava esquecido até pouco tempo.
A obra audiovisual, retirada do álbum "1932", traz à memória o fato de que outros campos de concentração foram criados no Ceará e é dever de historiadores fazer com que sejam lembrados, para não serem repetidos.
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| Capa de "1932" da Paradoxo |
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Resgate histórico e incentivo a cultura
A Paradoxo, que além de Reuber, conta com Nalber Silva - guitarra, Augusto Pitombeira - vocal e Marcelo Victor - bateria, tem como marca a execução do thrash metal da velha escola ena parte lírica, o papel de cronistas contemporâneos e o resgate histórico de fatos que foram empurrados ao limbo da história.
O Riffmakers conversou com Reuber Tadeu sobre essa missão, as leis de incentivo a cultura e claro, do clipe de "Patu".
Riffmakers: O que foi "Patu"? E qual a proposta em resgatar essa história?
Reuber Tadeu: No Ceará existiram vários campos de concentração, onde os sertanejos que estavam fugindo das secas eram enganados e colocados para trabalharem para o governo dentro desses campos até a morte.
Durante vários anos isso tudo passou despercebido já que não existia campos de alvenaria, até 1932, quando o IFOCS (Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, atual DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) criou o Campo 7 ( Patu) em Senador Pompeu e aí as ruínas ficaram a mostra.
No livro "O Quinze", Rachel de Queiroz retrata inicialmente esse processo. Isso tudo era para Fortaleza se parecer com a Europa e os "flagelados" não poluírem a cidade.
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| Cena de "Patu", com Luana Affla |
Riffmakers: De onde partiu a ideia de universalizar, por meio de um álbum, um tema regional e que até pouco tempo era ignorado.
Reuber: A deia de fazer um álbum temático ("1932") é minha, sou historiador e pesquisador dentro da área de cultura popular e história do Ceará. Além de mim, há outro historiador na banda, então as letras sempre são pensadas dentro do eixo nacional.
O álbum "Sociedade", de 2018, fala sobre a invasão da sociedade Brasileira até os dias de hoje. Já em "1932" resolvemos falar da nossa desgraça. As músicas têm como títulos os nomes dos campos e contam as experiências que os sobreviventes relatam em seus depoimentos, que foram coletados em um trabalho que durou quase três anos.
Riffmakers: No clipe há a presença de personagens mascarados. É alguma alegoria, alguma referência ao tema da letra?
Reuber: As máscaras são uma referência à cultura popular local de Senador Pompeu (onde fica Patu) que são os Caretas. Usamos aqui como alegorias para os espíritos vingadores dos campos
Riffmakers: O clipe de "Patu" foi possibilitado graças a uma lei de incentivo a cultura. Qual o valor que esses projetos têm para a produção independente?
Reuber: É a primeira vez que conseguimos a aprovação em um edital municipal. Esse edital foi da Lei emergencial Paulo Gustavo. Não é algo direcionado ao metal, mas precisamos nos aproximar desses recursos como toda expressão artística. E conseguimos.
Veja aqui o clipe de "Patu".
O clipe
"Patu" foi roteirizado e dirigido por Reuber Tadeu e filmado e editado por Emanuel Freitas sob o sol do Ceará. No elenco estão Luana Affla (flagelada), Raimundo Claudino (governador) e a banda como os espíritos vingadores dos campos.
O clipe de "Patu" teve apoio da Secult de Limoeiro do Norte (CE), por meio do Edital Cine Capri de Audiovisual Limoeirense, com recursos da Lei Federal Complementar N° 195 (Lei Paulo Gustavo).
*por Artur Mamede
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