De Parintins (372 km distante de Manaus) a Kohva lançou nesse sábado (24) seu primeiro full album "Resíduo da Alma". A produção do álbum foi possivel com a aprovação do projeto que foi contemplado pela lei Aldir Blanc (Municipal), inciso III. Ainda durante as maratonas no estúdio, o Riffmakers conversou com o guitarrista João Victor. Confiram a seguir o que rolou no.bate papo.
Riffmakers: Álbum quase pronto. Quanto tempo de estudio e o que tira dessa experiência profissional?
Victor: Bom, o processo de composição desse álbum já tem um tempinho. Desde o final de 2019 que estamos produzindo. Aí continuamos até o início de 2020, só que veio a pandemia e ficamos compondo individualmente.
Fazíamos reuniões mensalmente pra definir algo, pra mandar depois pro baterista que mora aqui em Manaus. Aliás, algumas músicas foram feitas por aqui mesmo. Pelo menos umas quatro das músicas.do álbum foram feitas em estúdio.
Então, chegamos aqui início de janeiro. Já estamos a mais de um mês aqui em Manaus. Primeiramente que isso tudo tá sendo gratificante, toda essa luta, de sair de uma cidade do interior e vir gravar em Manaus, onde tem uma estrutura de estúdio pra gravar bandas do gênero em que tocamos, por conta dos equipamentos, de pessoas que já estão no ramo há bastante tempo.
Tudo isso trouxe uma visão que não tínhamos, em vários aspectos. A experiência mais "doida" foi a de acampar mesmo no estúdio. Já estamos acampados por aqui há uns 15 dias. Experiência que bandas grandes já passaram.
Riffmakers: Qual o valor que essas leis de incentivo tem para a cultura, e para estilos que não têm acesso a mídia? Seria possivel com grana do próprio bolso?
Victor: Fazer o que estamos fazendo com a grana do "próprio bolso" é difícil, mas não é impossível. Ia demorar um bom tempo pra juntar essa grana rs. Outra coisa é a disponibilidade. A gente veio pra cá por conta que nossas faculdades estão paradas lá em Parintins, por conta da pandemia, lógico. Aí estávamos com essa disponibilidade pra entrar nesse processo de estúdio.
Bem, essas leis deveriam estar presentes anualmente, porque elas ajudam demais no fomento à cultura. Mas, infelizmente, sabemos a real situação política que o Brasil sempre enfrentou. Quanto menos cultura, quanto menos formas diferentes de pensar, é melhor pra eles.
Eu poderia passar horas falando sobre esse assunto, mas não vou me alongar. Enfim, a Lei Aldir Blanc está aí pra somar mesmo, ainda mais com artistas que estão às escuras do verde underground.
Riffmakers: A temática indígena e de culturas ancestrais brasileiras está bem fortalecida com o trabalho de diversas bandas. É esse o momento da Kohva?
Victor: É uma temática que realmente chama bastante atenção. E deveria sempre! O Brasil, o brasileiro "nasceu" de um estupro, de guerras. A nossa história não é bonita. Não é o que está nos livros de ensino médio. Os nossos verdadeiros heróis estão sem nome, assim como em diversas culturas espalhadas pelo mundo.
Então, o contexto do Projeto Kohva é de mostrar a real história e defesa da cultura indígena. E com a música, o plano é ir além, porque a música é universal. Ela consegue transpassar os mais "escondidos" meios.
Riffmakers: Expectativas para shows de lançamento?
Victor: Cara, as expectativas são mínimas, sendo bem sincero. Ainda mais quando temos um atraso e um fiasco na Presidência. Um país que trata a saúde como se fosse uma brincadeira. Saúde, educação, saneamento básico.
Enfim, eu tento ser otimista, mas as vezes não é bem por aí. Perdi entes queridos, assim como milhões de pessoas no mundo. E a gente vê que nada muda.
O álbum
"Resíduo da Alma" será disponibilizado primeiramente no YouTube. A banda ainda está resolvendo a disponibilidade em plataformas de streaming, por conta de alguns requisitos burocráticos. "Logo logo anunciaremos o álbum nas demais plataformas" avisou a banda nas redes sociais..
Confira o track list de "Resíduo da Alma".
01 - Forjado
02 - Pífio
03 - Dedo de Deus
04 - Resíduo da Alma
05 - Resto
06 - Ruptura
07 - Virgem
08 - Sacrifício
09 - Guerra Santa
10 - Torso Nu
Ouça ""Resíduo da Alma" clicando aqui
*por Artur Mamede