sexta-feira, 25 de outubro de 2024

RESENHA Miasthenia -"Espíritos Rupestres" (2024)

 


O Black Metal é sempre lembrado pela sonoridade crua, extrema e as letras pautadas no oculto, mas além da escolha por cantar em português a adoção da temática pagã faz do MIASTHENIA um exemplo único e fantástico à cena Heavy Metal.


Originada em Brasília, no longínquo 1994, a banda (que já passou duas vezes por Manaus em 2012 e 2017) traz dois diferenciais em sua brilhante carreira: um é sua proposta em pautar suas composições no PAGAN BLACK METAL, indo assim além do básico que a cena traz; mas sem dúvida o maior diferencial é a presença da maravilhosa Susane Hecate, vcl/tcl e líder da banda. 


E a combinação de tudo isso chega aos nossos ouvidos pelo recém lançado “Espíritos Rupestres” (OUÇA AQUI). No álbum temos as letras baseadas no conto “A Bruxa Xamã”, escrito por Hecate, esbanjando seu domínio, afinal, a Prof.ª Drª Susane “Hecate” Rodrigues é historiadora com uma extensa produção científica pautada nos povos antigos da América e nas representações do Feminino.

O conto mostra a trajetória da guardiã dos mistérios rupestres de outrora, mas que infelizmente é condenada pelo Tribunal do Santo Ofício durante a Inquisição no Brasil Colonial.
A temática das letras atravessa a pré-história do Brasil e a resistência oferecida pelos Tapuias durante os séculos XVII e XVIII.

Agora junte a isso a muralha rítmica construída pelo Miasthenia, pautada no Black Metal e com os teclados de Hecate criando o clima característico do som, mas nos carregando por passagens que vão além da sonoridade de “filme de terror” também comum ao gênero. 

Aliás, cabe destacar muito bem o trabalho da baixista Aletea Cosso, trazendo segurança às bases sonoras juntamente com a baterista Lith Drummer. Por sinal, ambas compõem os backings vocals, Aletea com as partes mais líricas e Lith com as partes mais extremas.

Completando o grupo, as guitarras de Marcos Thormianak marcam os solos de forma eficiente e poderosa, literalmente como estivesse em pleno ataque durante uma batalha campal. Co-responsável pela autoria das faixas e fundador da banda junto com Hecate, Thormianak traz todo o peso necessário para equilibrar a sonoridade junto com o clima místico proporcionado pelos teclados.






“Espíritos Rupestres” é um disco excepcional, seja pelos vocais femininos, as letras em português, mas principalmente pela proposta temática. Não é apenas mais um disco de Black Metal, mas uma verdadeira aula de história. 

Indo além de apenas usar um evento como pano de fundo para a música mas uma literal representação de personagens e eventos de nossa história, mais ainda, a história além da história por trazer à luz passagens que a historiografia tradicional mantém silenciada.

Se você aprecia a música extrema ouça sem moderação, mas se você quer algo além do comum, siga a MIASTHENIA e busque cada vez mais por uma história do possível.

*Marcelo Dores, especial para o Riffmakers 




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